A Escola Estadual de Ensino Médio Joceli Corrêa completou neste ano de 2022 seus 23 anos, tem uma história de luta, amor, dedicação, resistência, responsabilidade e comprometimento.

A história da escola Joceli Corrêa nos enche de orgulho, porque ela foi desde a sua demanda com a vida dos assentamentos em 1995 a sua conquista oficial em 1999 aos dias atuais uma construção coletiva e gradativa da evolução da educação neste educandário.

Seus alicerces foram construídos muito antes do que o material concreto propriamente dito, ou seja, uma escola não é fundada apenas com a inauguração de um prédio, mas de toda construção ideológica e social que se levanta com os sujeitos que fazem e que fizeram parte desta história de persistência e coragem a qual toda a comunidade escolar encarou. Foi uma conquista da comunidade assentada e reassentada que lutou e que ainda resiste pelo direito de educar nossos filhos no campo, perto da terra tão sonhada e conquistada.

Fundada no dia 10 de março de 1995 (com a vinda das famílias assentadas para o município), uma palavra define a nossa escola: LUTA. Que nunca cessou.

Rubem Alves faz uma reflexão profunda sobre a escola quando diz:

“ Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.”

Este pensamento está impregnado de sabedoria porque a trajetória educacional da Escola Joceli Corrêa tem-se configurado por um processo democrático de luta por uma educação que não fosse apenas gaiola cerceando a liberdade dos pássaros, e sim, preservasse a essência deles que é dar-lhes asas para que alcem vôos em busca de novos horizontes alimentando nossos sonhos para que nesta escola se formassem verdadeiros cidadãos primando pela inclusão social. Na busca de um caminho de participação, embasado na justiça social, igualdade e diversidade, na preservação dos movimentos sociais dos trabalhadores do Campo. A construção de uma sociedade livre dos males que hoje assolam nosso País, como a corrupção e suas múltiplas faces, o ódio que se alastra. Neste contexto buscam o aprofundamento do diálogo, da tolerância e a exposição das divergências para que se possa construir um futuro melhor, garantindo o acesso e a permanência da juventude no campo.

No início, construída para atender a comunidade recém-assentada e reassentada, passo a passo, a comunidade escolar juntamente comos educadores que aqui chegaram criaram com ela um elo sólido e, de mãos dadas, construíram uma caminhada que, hoje, orgulha e dignifica a educação pública do CAMPO de Jóia e do país. Além disso, está implícita na história de nossa escola a contribuição de muitos pessoas de diversos movimentos sociais, mas em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que não mediram esforços para consolidar a identidade desta comunidade escolar.

Uma comunidade nova, oriunda de três diferentes regiões do estado do Rio Grande do Sul, a região de Lagoa Vermelha, Não me Toque e São Miguel das Missões que juntos formaram a segunda comunidade assentada no PA Rondinha. (A primeira foi a Botão de Ouro).

Com a vinda de 232 famílias, em torno de 686 pessoas, e na sequência outras tantas viriam, formou-se uma nova comunidade com as mais diferentes culturas do Rio Grande do Sul e junto com elas muitas outras demandas como posto de saúde, comercio, escola/ educação, recursos financeiros, estradas/logística, transporte... entre tantas outras.

Todo o município precisou se adequar a chegada dos novos moradores. Quem viveu este tempo há de lembrar. O que era Jóia antes da chegada dos assentamentos e o que é hoje. Mas à partir daí foi inaugurada uma nova era neste município.

Nesses 23 anos em muitos momentos encontraram-se fatigados pela luta diária e vendo seus direitos serem extintos por políticas governamentais equivocadas, e estes verdadeiros soldados, que são a comunidade escolar, alunos e educadores, não permitiram que a descrença e a educação fossem mero interesse político. Com este batalhão de pessoas valentes, fortes, verdadeiros guerreiros e perseverantes, a Escola Joceli Corrêa tomou posse deste território, solidificou-se e foi ampliando o espaço de conquistas educacionais no transcurso do tempo, de tal forma que ultrapassaram os horizontes regionais. Hoje, a escola é referência em educação do Campo e visando sempre desenvolver um projeto político pedagógico voltado para a inclusão social, humanização e capacitação.

Neste período tiveram muitas conquistas, o aumento de educandos a cada ano, assim como o número de educadores, a construção do Projeto Político Pedagógico de escola do campo, a autorização das modalidades Educação de Jovens e Adultos, a conquista do Ensino Médio que beneficiou todos os estudantes do campo, que não mais necessitaram deixar suas famílias e migrarem em busca da conclusão da Educação Básica, a inclusão através da Sala de Recurso, quadra de esportes, salas emergenciais, ampliação de duas salas novas, informática com internet, reforma da rede elétrica, laboratório de ciências, programas Mais Educação, Escola aberta, Atleta, PROEMI, Sustentável, Projetos Grupo de dança tradicionais, treinamento esportivo, A Reforma da Quadra Poliesportiva, fruto de um processo da ocupação  da escola pelos nossos educandos no ano de 2015, exigindo  a permanência  e melhorias na educação pública gaúcha, a Rádio Escola e Curtas na Escola, Horta escolar, Captação de água da chuva para a cisterna....

Merece referência o vínculo construído entre a escola e a comunidade escolar. Pais, alunos, ex-alunos, educadores e ex-educadores, CPM, Conselho Escolar somam-se neste processo de implementação de ações que alavancam o crescimento educacional dessa ESCOLA.

São 23 anos de conquistas, vitórias, construção, avaliação, persistência, questionamentos, mas acima de tudo de luta para que a educação pública do CAMPO tivesse seu espaço e cumprisse sua missão primeira que é formar verdadeiros cidadãos para a vida. Dar asas para que os alunos aprendam a voar e partam sempre em busca novos portos para a construção de um país mais justo.

Desta educação do campo com características próprias tem hoje profissionais de excelência nas diferentes áreas, Agricultores; Médicos; Veterinários; Professores; Assistentes Sociais; Agrônomos; Administradores; Psicólogas, Enfermeiras, Técnicos Agrícolas; Técnicos Agropecuários, estudantes de Odontologia; Arquitetura e Urbanismo; Automação Industrial...e outros tantos que compõe a qualificação do trabalho no nosso meio e na sociedade.

A Escola Joceli Corrêa, sempre lutou e lutará pelo direito de Educação pública NO CAMPO de qualidade; Pelo direito de PERMANÊNCIA DO TRABALHADOR NO CAMPO.Pelo respeito à identidade SEM TERRA nesse momento de criminalização dos movimentos sociais.Por um projeto REAL DE DEMOCRACIA.O que nos orientará  é um princípio elementar :todas as pessoas têm o mesmo valor.

Para finalizar deixamos a visão de Boaventura Souza Santos de que “Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.”

Professora Camila Martins